Tratamento da fobia social generalizada: comparação entre técnicas
Treatment of generalized social phobia: comparison between techniques
Gustavo J. Fonseca D'El Rey Douglas Cardoso Beidel
Carla Alessandra Pacini
1
(Centro de Pesquisas e Tratamento de Transtornos de Ansiedade-SP)
1E-mail: g.delrey@bol.com.br
Resumo
Abstract
A fobia social (transtorno de ansiedade social) é um grave transtorno de ansiedade, que traz sofrimento e incapacitação. Neste estudo, 17 pacientes com diagnóstico de fobia social generalizada foram randomicamente distribuídos em dois grupos de tratamento. Um grupo recebeu treinamento de habilidades sociais isoladamente (THS) e o outro grupo recebeu a combinação de treinamento de habilidades sociais e reestruturação cognitiva (THS-RC). Ambos os tratamentos foram efetivos, porém a combinação de técnicas (THS-RC) provou ser significativamente mais efetiva do que o treinamento de habilidades sociais sozinho nos vários nstrumentos de avaliação ao final do tratamento de 8 semanas e no follow-up de três meses.
Palavras-chave: fobia social; reestruturação cognitiva; psicoterapia.
Social phobia (social anxiety disorder) is a severe anxiety disorder, that brings suffering and disabling. In this study, 17 patients with diagnosis of generalized social phobia were randomly allocated in two groups of treatments. One group received social skills training alone (SST) and the other group received the combination of social skills training and cognitive restructuring (SSTCR). Both treatments were effective, however the combination of techniques (SST-CR) proved to be significantly more effective than social skills training alone in the several measures instruments at the final of 8 weeks of treatment and at the 3-month follow-up.
Keywords: social phobia; cognitive restructuring; psychotherapy.
ISSN 1517-5545
2006, Vol. VIII, nº 1, 001-012
Revista Brasileira de
Terapia Comportamental e Cognitiva 001
Gustavo J. Fonseca D'El Rey - Douglas Cardoso Beidel - Carla Alessandra Pacini 002 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2006, Vol. VIII, nº 1, 001-012
Afobia social (transtorno de ansiedade social) é um dos transtornos mentais mais prevalentes na população geral (Magee, Eaton, Wittchen, McGonagle & Kessler, 1996); é considerada um transtorno crônico que não apresenta remissões espontâneas e traz perdas de oportunidades e sofrimento para seu portador (D'El Rey, 2001; Wittchen&Beloch, 1997).
O treinamento de habilidades sociais é consi derado na prática clínica como um dos trata mentos não-farmacológicos mais eficazes pa ra a fobia social (Heimberg, 2002; Lincoln, 2003). A reestruturação cognitiva mostrou-se como uma técnica importante no tratamento da fobia social, pois muitos pacientes apresentam diversas cognições negativas a respeito de
suas habilidades e do julgamento que possam estar sofrendo por parte de outras pessoas (Hofmann, 2004; Taylor , 1997).
Infelizmente não existem muitos estudos comparando a eficácia do treinamento de habilidades sociais com e sem a reestruturação cognitiva na fobia social. Alguns estudos relatam que a associação destas técnicas traz bons
resultados no tratamento da fobia social (Lincoln , 2003; Mersch, 1995; Mersch, Emmelkamp, Bögels & van Der Slenn, 1989),
outros estudos descrevem que não existem vantagens para o paciente fóbico social na associação destas duas técnicas (Souza & Pereira, 1997; Van Dam-Baggen & Kraaimat, 2000).
Este estudo teve como objetivo comparar os efeitos do tratamento de pacientes com diagnóstico de fobia social generalizada utilizando-se treinamento de habilidades sociais com e sem a reestruturação cognitiva.
A amostra compreendeu 17 pessoas, sendo 10 homens e 7 mulheres, com a média de idade de 36,2 anos e com a média de anos de duração da fobia social de 15,9 anos (ver Tabela 1). Os pacientes foram recrutados por meio de anúncios em jornais do bairro. Vinte e seis pessoas responderam aos anúncios nos jornais. Nove pessoas não puderam ser incluídas no presente
estudo, devido aos critérios estabelecidos para a inclusão, estes critérios foram: ter entre 18 e 60 anos; diagnóstico primário de fobia social segundo o DSM-IV (Associação de Psiquiatria Americana, 1995) não ter nenhum problema com álcool e drogas; não apresentar depressão grave; não apresentar agorafobia; não estar recebendo nenhuma forma de tratamento
psicoterápico ou psicofarmacológico durante o estudo. Todas as pessoas incluídas neste estudo foram avaliadas para o diagnóstico de fobia social por meio da Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-IV - SCID-I/P 2.0 (Tavares, 1996), reportando altos níveis de ansiedade social e evitação de diversas situações sociais e de desempenho, com interferência
nas rotinas diárias e sofrimento. A amostra compreendeu, em sua maioria, as seguintes situações: 76% medode beber diante de outras pessoas; 71% medo de falar para um pequeno grupo de pessoas desconhecidas; 67% medo de conversarcompessoas do sexo oposto; 27% medo de escrever na presença de outras pessoas; 22% medo de usar o toalete fora de casa (todos homens); e 25% medo de outras situações, tais como medo de estar em lugares públicos, conversar com figuras de autoridade e
medo de comer em público. Cabe ressaltar, que toda a amostra deste estudo recebeu o diagnóstico de fobia social generalizada, pois apresentavam diversos medos, descritos anteriormente.
As pessoas foram distribuídas randomicamente em dois grupos de tratamento. O primeiro grupo continha 8 pessoas e recebeu apenas treinamento de habilidades sociais (THS) e o outro grupo continha 9 pessoas e recebeu treinamento de habilidades sociais associado à reestruturação cognitiva (THS-RC).
As pessoas foram tratadas em dois grupos por 2 horas e 30 minutos se-
-
et al.
-
et al.
-
-
et al.
Método
Participantes;
Desenho experimental
Tratamento
A) Aspectos gerais:
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2006, Vol. VIII, nº 1, 001-012 003 Tratamento da fobia social generalizada: comparação entre técnicas manais por 8 semanas. Dois psicoterapeutas com experiência (a época do estudo, 5 anos) em tratamento com técnicas cognitivas e comportamentais da fobia social (os dois primeiros autores) conduziram as sessões de tratamento.
Durante o período do presente estudo, ambos os terapeutas não discutiram o andamento dos tratamentos de ambos os grupos,
para que não ocorresse uma contaminação de informações.
Esta forma de tratamento envolveu a discussão e a prática de situações sociais em que cada paciente treinou a habilidade necessária para a conclusão de determinada situação (conforme suas deficiências nas habilidades sociais), utilizou-se, no treinamento, o ensaio comportamental por meio do terapeuta e/ou de outros pacientes do grupo (Caballo, 1996; Falloon, Lindley & McDonald, 1977). Durante a primeira sessão de tratamento, o objetivo da terapia e os procedimentos para as próximas 7 sessões foram explicados aos participantes.Otempo restante da primeira sessão foi utilizado para a estruturação dos exercícios. Nas sessões 2 a 7, metade do tempo foi utilizado para a estruturação da prática das situações sociais, tais como, conversar com pessoas do sexo oposto, falar para um pequeno grupo, escrever em público, etc. A outra metade do tempo dessas sessões foi utilizado para a prática real das situações, levando-se em conta o déficit de habilidades sociais de cada paciente. A última sessão (8ª sessão) foi usada para a avaliação das melhoras obtidas na terapia. Era solicitado aos pacientes que se expusessem durante a semana (entre as sessões) como tarefa de casa às situações treinadas nas sessões de terapia. Os participantes mantiveram um diário, onde anotavam as situações sociais que lhes causavam desconforto; a ansiedade inicial a cada tarefa (numa escala de 0 a 100); e a ansiedade final após o término da tarefa (também numa
escala de 0 a 100). Cabe ressaltar que neste grupo de tratamento, nenhuma intervenção cognitiva foi realizada, mesmo quando os pacientes apresentavam pensamentos negativos e distorcidos durante o treino de habilidades sociais. Em média, duas diferentes situações sociais eram praticadas em cada sessão de terapia.
Ambas as técnicas foram utilizadas neste grupo de tratamento.
O treinamento de habilidades sociais neste grupo seguiu o mesmo formato relatado anteriormente para o grupo que recebeu
apenas THS. A reestruturação cognitiva utilizada neste estudo foi a descrita por Beck (1997). Nesta técnica cognitiva, os pacientes foram ensinados a identificar os pensamentos distorcidos que ocorriam nas situações sociais; a procurar vidências favoráveis e emcontrário a seus pensamentos mal-adaptativos; e substituir estes pensamentos por outros mais positivos e adaptativos. Inicialmente, o terapeuta ajudou os pacientes nesta técnica, porém quando os pacientes aprenderam a usála, foram encorajados a praticá-la sozinhos.
Também foram encorajados a discutirem entre os participantes do grupo estes pensamentos e a reavaliação dos mesmos (Taylor , 1997). Além do diário que continha informações sobre a realização de tarefas sociais du rante a semana (idêntico ao grupo que recebeu apenas THS), os pacientes deste grupo mantiveram um diário onde registravam a situação social que lhe causava desconforto; a ansiedade inicial a cada tarefa (numa escala de 0 a 100); pensamentos distorcidos e negativos que ocorriam na situação; a avaliação e correção desses pensamentos; e a ansiedade final após o término da tarefa (também de 0 a 100). A
estrutura das sessões foi idêntica àquela usada no grupo que recebeu apenas THS.
Após os pacientes terem sido avaliados para a inclusão no estudo e distribuídos nos dois grupos de tratamento, foram avaliados numa segunda entrevista para o pré-tratamento por meio de diversas escalas de avaliação (descritas a seguir no texto). Ao final do trata- B) Treinamento de habilidades sociais (THS):
C) Treinamento de habilidades sociais e reestruturação cognitiva (THS-RC):
Procedimento
et al.
-
-
-
-
Gustavo J. Fonseca D'El Rey - Douglas Cardoso Beidel - Carla Alessandra Pacini 004 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2006, Vol. VIII, nº 1, 001-012 mento, os pacientes foram novamente avaliados pelas mesmas escalas. Foi solicitado, aos pacientes, ao final da última sessão, que continuassem a utilizar as técnicas apreendidas durante o tratamento até o follow-up. No follow- up de três meses, foi oferecido tratamento adicional aos pacientes que assim o desejaram.
Individualmente foi construída uma hierarquia de situações sociais temidas, igualmente a usada no estudo de Biran, Augusto e Wilson
(1981). A hierarquia foi usada como um procedimento de avaliação pré, pós-tratamento e no follow-up. Os escores do teste de aproximação variaram entre 0 a 100 pontos. Os pacientes foram instruídos a preencheram juntamentecomo terapeuta este teste.
Em nosso estudo, foi utilizada para avaliação da esquiva fóbica a subescala de esquiva da Escala de Problemas e Objetivos. Situações fóbicas que o paciente evita são descritas como problemas principais a serem enfocados duranteo tratamento. As situações são avaliadas em escala de 0 a 8, em relação ao grau de esquiva fóbica. A escala é preenchida pelo próprio paciente.
OSPIN é uminstrumento que consiste de 17 itens, abrangendo 3 critérios importantes que definem o quadro clínico da fobia social, ou seja, o medo, a evitação das situações e os sintomas somáticos. O inventário engloba tanto situações de interação social quanto de desempenho. Para cada item do questionário, solicita-se, ao indivíduo, que indique o quanto as situações o incomodaram, devendo marcar uma entre as cinco opções, que variam de "De forma alguma à Extremamente". A pontuação para cada uma das opções varia de 0 a 4, e a pontuação total do inventário varia de 0 a 68. Escores de 19
pontos, ou mais, indicam a presença de sintomas compatíveis com o diagnóstico de fobia social. O próprio paciente preenche esse instrumento.
A ansiedade social foi mensurada por meio de uma subescala da Lista de Pesquisa de Medo. Esta subescala consiste de 10
itens relativos a situações sociais e são avaliadas cada uma em escores de 0 a 3. Quanto maior o escore, maior a ansiedade social. O escore total varia de 0 a 30. A subescala é preenchida pelo paciente.
Este questionário consiste de 35 itens que avaliam as cognições maladaptativas em situações sociais. O inventário
apresenta duas sessões, uma que avalia a atitude do paciente em relação às outras pessoas (17 itens), e outra sessão que avalia a preocupação com a auto-imagem (18 itens).
Os escores para cada item variam de 1 a 5, com um escore variando de 35 a 175. Este instrumento é de autopreenchimento.
Para medir as expectativas dos pacientes de ambos os grupos para os tratamentos propostos, as percepções em relação à terapia foram avaliadas em: a estrutura do tratamento parece lógica; acredita que o tratamento reduzira seus me
dos sociais; e eles recomendariam este tipo de tratamento para outras pessoas. Cada um dos três itens propostos para esta avaliação variaram entre 0 e 10, podendo alcançar um escore total de 30 pontos (Mattick&Peters, 1988).
Todos os pacientes assinaram um termo de compromisso, em que estavam expressos os objetivos da pesquisa e que poderiam deixar o estudo em qualquer momento, sem prejuízo de continuarem o tratamento individualmente ou em grupo se assim o desejassem. A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Pesquisas e Tratamento de Transtornos de Ansiedade - São Paulo-SP.
Medidas de avaliação
A) Teste de Aproximação Comportamental:
B) Escala de Problemas e Objetivos (Gelder &Marks, 1966, citado por Ito&Ramos, 1998):
C) Inventário de Fobia SocialSPIN (Vilete, Coutinho&Figueira, 2004):
D) Lista de Pesquisa deMedo(Hallan&Hafner,
1978):
E) Inventário de Cognições Sociais-SCI (van Kamp & Klip, 1981):
F) Expectativas para o tratamento:
Questões éticas
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2006, Vol. VIII, nº 1, 001-012 005 Tratamento da fobia social generalizada: comparação entre técnicas Análise estatística
Resultados
Características da amostra no pré-tratamento
Tabela 1
Análises de variância múltipla (MANOVA) e de covariância (ANCOVA) foram utilizadas ao longo dos resultados deste estudo (McCall, 1990).
As características dos pacientes no pré-trata mento estão na . A análise de variância múltipla (MANOVA) mostrou que não
existiram diferenças significativas entre os dois grupos no pré-tratamento (THS x THSRC) em relação à idade, distribuição dos sexos, estado civil e duração do quadro fóbico ( < 1). A MANOVA também mostrou que não existiram diferenças significativas nos escores dos instrumentos de avaliação entre os dois grupos no início do tratamento ( < 1).
- Todos os 17 pacientes terminaram o estudo.
-
F
F
Tabela 1 - Características da amostra (n = 17)
Características THS THS-RC Total
Sexo
Idade
Estado civil
Duração da fobia
Masculino 5 5 10
Feminino 3 4 7
Médiaemanos 37,3 35,2 36,2
Desvio-padrão 6,9 6,1 6,4
Solteiro 3 4 7
Casado 5 5 10
Médiaemanos 15,1 16,6 15,9
Desvio padrão 4,8 3,7 4,2
Comparação dos tratamentos (THS x THSRC)
A) Expectativas da terapia:
-
B) Teste de Aproximação Comportamental:
Figura 1
Os dois grupos
não apresentaram diferenças significativas
nos escores relativos à expectativa em relação
aos tratamentos propostos (THS = média dos
escores de 23, DP = 2,8 e THS-RC = média de
25, DP = 2,5). Estes resultados sugerem que os
tratamentos foram apresentados para os pa
cientes com a mesma credibilidade por ambos
os terapeutas.
Os resultados deste teste estão representados
na e mostram a média nos escores dos
dois grupos de tratamento no pré, póstratamento
e no follow-up de três meses. Como
pode ser observado, ambos os grupos apresentaram
melhoras substanciais neste item. A
Gustavo J. Fonseca D'El Rey - Douglas Cardoso Beidel - Carla Alessandra Pacini
006 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2006, Vol. VIII, nº 1, 001-012
análise de covariância (ANCOVA) confirmou
que existiu uma melhora global significativa
em ambos os grupos. Entretanto, o grupo que
recebeu a combinação de treinamento de habilidades
sociais e reestruturação cognitiva
(THS-RC) apresentou uma melhora superior,
no pós-tratamento, ao grupo que recebeu apenas
treinamento de habilidades sociais (THS).
Ambos os grupos mantiveram a melhora
conseguida ao final do tratamento no followupde
três meses.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
PRE POS F/U
(PRE = Pré-tratamento; POS = Pós-tratamento; F/U = Follow-up)
Escores do teste
THS
THS-RC
Figura 1 - Média dos escores dos grupos obtida no Teste de Aproximação Comportamental
C) Escala de Problemas e Objetivos: Figura
2
Figura 2
A
mostra as médias dos escores dos dois grupos
obtidos na subescala de esquiva fóbica.
Ambos os grupos apresentaram melhoras ao
final do tratamento. A ANCOVA realizada
neste item da avaliação mostrou que similarmente
ao Teste de Aproximação Comportamental
existiu uma melhora significativa em
ambos os grupos. Mas como pode ser visto na
, o grupo que recebeu o tratamento
com a combinação de técnicas (THS-RC) apresentou
uma melhora superior ao grupo que
recebeu apenas THS.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
PRE POS F/U
(PRE = Pré-tratamento; POS = Pós-tratamento; F/U = Follow-up)
Escores de esquiva
THS
THS-RC
Figura 2 - Média dos escores dos grupos obtida na Subescala de Esquiva
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2006, Vol. VIII, nº 1, 001-012 007
Tratamento da fobia social generalizada: comparação entre técnicas
D) Inventário de Fobia Social (SPIN):
Figura 3
O grupo que recebeu o tratamento combinado (TSH-RC) obteve uma melhora superior ao grupo que recebeu apenas o treinamento de habilidades sociais (TSH), embora ambos os grupos apresentassem melhoras segundo este instrumento de avaliação, como pode ser visto na . A ANCOVA realizada para esta medida de avaliação mostrou que existiu uma melhora significativa nos dois grupos de tratamento. Como esse instrumento avalia o limite de sintomatologia fóbica social (19 pontos ou mais), no grupo que recebeu apenas THS, duas (24% da amostra de 8 pacientes e 12% da amostra total de 17 pacientes) pessoas obtiveram pontuação no pós-tratamento e no follow-up de três meses inferior a 19 pontos, ou seja, segundo este instrumento, não apresentavam mais sintomas compatíveis com o diagnóstico de fobia social. No grupo que recebeu o tratamento combinado (TSH-RC), quatro (33% da amostra de 9 pacientes e 24% da amostra total) pacientes obtiveram pontuação inferior a 19 pontos no pós-tratamento e no follow-up.
0
8
16
24
32
40
48
56
64
PRE POS F/U (PRE = Pré-tratamento; POS = Pós-tratamento; F/U = Follow-up) Escores do SPIN THS THS-RC
Figura 3 - Média dos escores dos grupos obtida no Inventário de Fobia Social E) Lista de Pesquisa de Medo: A Figura 4
mostra as médias dos escores dos dois grupos obtidos na subescala que avalia ansiedade social neste instrumento. Os dois grupos apresentaram melhoras no pós-tratamento que foram mantidas no follow-up de três meses.A ANCOVA realizada neste item da avaliação mostrou que existiu uma melhora significativa em ambos os grupos. O grupo que recebeu THS-RC apresentou melhoras superiors ao grupo que recebeu apenas THS ao final do tratamento nesta medida de avaliação.
Gustavo J. Fonseca D'El Rey - Douglas Cardoso Beidel - Carla Alessandra Pacini 008 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2006, Vol. VIII, nº 1, 001-012 Figura 4 - Média dos escores dos grupos obtida na Lista de Pesquisa de Medos 0
5
10
15
20
25
30
PRE POS F/U
(PRE = Pré-tratamento; POS = Pós-tratamento; F/U = Follow-up)
Escores da ansiedade social
THS
THS-RC
F) Inventário de Cognições Sociais (SCI):
Figura 5
-
Figura 5
A
apresenta os resultados obtidos neste
instrumento em ambos os grupos de tratamento
para uma melhor visualização dos
dados encontrados. Ambos os grupos apresentaram
melhoras nesta medida de avalia
ção. Porém, segundo o que a ANCOVA realizada
neste item mostrou, o grupo que recebeu
a combinação de técnicas (THS-RC) apresentou
uma melhora significativamente superior
nesta medida de avaliação em relação ao
grupo que recebeu o treinamento de habilidades
sociais isoladamente (THS), conforme
pode ser visualizado claramente na .
Figura 5 - Média dos escores dos grupos obtida no Inventário de Cognições Sociais
35
45
55
65
75
85
95
105
115
125
135
145
155
165
175
PRE POS F/U
(PRE = Pré-tratamento; POS = Pós-tratamento; F/U = Follow-up)
Escores do SCI
THS
THS-RC
Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2006, Vol. VIII, nº 1, 001-012 009
Tratamento da fobia social generalizada: comparação entre técnicas
Tratamento adicional
Discussão
Nofollow-up de três meses foi oferecido tratamento
adicional aos pacientes que desejavam
e sentiam necessidade de continuar com a terapia.
Quatro (50% da amostra de 8 pessoas e
24% do total da amostra de 17 pessoas) pacientes
do grupo que recebeu apenas THS solicitaram
tratamento adicional, enquanto que apenas
1 (11% da amostra de 9 pessoas e 6% do
total da amostra) paciente do grupo que recebeu
THS-RC solicitou tratamento adicional
após o follow-up.
Até o presente momento e até onde sabemos,
não existem, aqui no Brasil, estudos que comparem
o treinamento de habilidades sociais
usado em associação ou não com a técnica de
reestruturação cognitiva no tratamento da
fobia social.
A divisão dos pacientes nos dois grupos de
tratamento (THS x THS-RC) foi similaremsua
distribuição com relação ao sexo, idades e
tempo de doença à de outros estudos com fo
bia social (Biran , 1981; Lincoln , 2003;
Mersch, 1995; Mersch , 1989; Souza &
Pereira, 1997; van Dam-Baggen & Kraaimat,
2000).
Comparando-se os instrumentos de avaliação
antes e depois do tratamento, ambos os gru
pos apresentaram melhoras significativas. E
observando-se estes mesmos instrumentos no
follow-up de três meses, novamente ambos os
grupos de tratamento mantiveram as melho
ras conseguidas durante a terapia. Porém, no
grupo que recebeu apenas treinamento de ha
bilidades sociais (THS), embora tenha apre
sentado melhoras em relação ao Inventário de
Cognições Sociais (SCI), estas foram significa
tivamente inferiores às melhoras apresenta
das no grupo que recebeu tratamento combi
nado. Este fato pode ser justificado pelo uso da
técnica de reestruturação cognitiva, uma vez
que com uma melhor avaliação das situações
sociais e de desempenho (eliminando-se as
distorções cognitivas tão freqüentes nos
fóbicos sociais), o medo presente no enfren
tamento destas mesmas tende a diminuir,
como afirmam Falcone (2001); Hofmann
(2004); Taylor (1997).
Comparando-se os dois tratamentos, o grupo
que recebeu a combinação de treinamento de
habilidades sociais e reestruturação cognitiva
(THS-RC) apresentou, em todas as medidas
de avaliação, uma superioridade na melhora
da fobia social em relação ao grupo que rece
beu apenas o treinamento de habilidades
sociais (THS), sugerindo que a combinação
destas duas técnicas é um tratamento nãofarmacológico
efetivo para esta grave con
dição de ansiedade, apoiando os estudos de
Lincoln (2003); Mersch (1995); Mersch
(1989); Rodebaugh, Holaway e Heimberg
(2004). Estes resultados também são refletidos
no follow-up de três meses em que apenas
uma pessoa do grupo que recebeu THS-RC
solicitou tratamento adicional, enquanto que
quatro pessoas do grupo que recebeu apenas
THSsolicitaram tratamento extra para a fobia.
Outro fator que apóia estes resultados relatados
anteriormente, diz respeito ao Inventário
de Fobia Social (SPIN) aplicado no follow-
up de três meses. O dobro de pacientes (4
= THS-RC x 2 = THS) que receberam o
tratamento combinado apresentaram escores
inferiores a 19 pontos neste inventário, sendo
esta uma pontuação que indica a não presença
de sintomas compatíveiscomo diagnóstico de
fobia social.
Acreditamos que a modificação das cognições
negativas e distorcidas apresentadas pelos pa
cientes com fobia social por meio de técnicas
cognitivas (Clark & Wells, 1995), é um pre
ditivo significativo para a manutenção da
melhora conseguida no tratamento da fobia
social (Hofmann, 2004; Lincoln , 2003;
Taylor , 1997). O medo do fracasso e da
ridicularização são aspectos importantes nas
pessoas com ansiedade social, dificultando
iniciativas de exposição (Oliveira & Duarte,
2004). Nos estudos de Butler (1985) e Stopa e
Clark (1993), estes reportaram que a mudança
cognitiva nos pacientes fóbicos sociais é es
-
et al. et al.
et al.
-
-
-
-
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et al.
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-
et al. et
al.
-
-
et al.
et al.
-
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010 Rev. Bras. de Ter. Comp. Cogn. 2006, Vol. VIII, nº 1, 001-012
sencial para o sucesso do tratamento, pois
quando estas não ocorrem, geralmente o paciente
deixa de continuar com o tratamento.
Outro estudo (Hofmann, 2004) relatou que os
pacientes fóbicos sociais que ao final do tratamento
mantêm ainda diversas cognições negativas
em relação a situações sociais e de
desempenho têm uma maior chance de recaídas.
Alguns comentários são necessários, pois estes
podem ajudar na direção de pesquisas
futuras. Embora o grupo de THS-RC obtivesse
um melhor resultado na melhora da fobia social
em relação ao grupo de THS, a diferença
mais marcante ocorreu no Inventário de Cognições
Sociais (SCI). A melhora significativa
nas cognições distorcidas e negativas em situações
sociais apresentadas no grupo de
THS-RC parece ser responsável também pela
melhora superior nas outras medidas de avaliação
em relação ao grupo de THS somente.
Considerar a técnica de reestruturação cognitiva
como somente um procedimento para
alterar cognições mal-adaptativas, parece-nos
impor um reducionismo à eficácia dessa técnica;
ela é também reconhecida como um procedimento
de gerência da ansiedade (Taylor
, 1997). Os procedimentos de reestruturação
cognitiva tentam reduzir o pensamento defeituoso,
ensinando aos pacientes um procedimento
sistemático para identificar e corrigir
estes pensamentos distorcidos. Sem especificamente
serem treinados em tais procedimentos,
os pacientes fóbicos podem apresentar
melhorias nos sintomas de ansiedade
social, contudo não podem ser hábeis em usar
técnicas cognitivas para controlar a ansiedade
social (Hofmann, 2004) quando esta tem um
aumento frente a situações ou na expectativa
do enfrentamento de determinada situação temida
(ansiedade antecipatória). Por isso, acreditamos
que a reestruturação cognitiva deve
estar presente em qualquer pacote de tratamento
da fobia social.
Neste estudo, a terapia de grupo com treinamento
de habilidades sociais e reestruturação
cognitiva mostrou-se como um tratamento
superior ao treinamento de habilidades sociais
usado isoladamente no tratamento da fobia
social generalizada. Pesquisas futuras devem
ser dirigidas com um maior número de
pacientes para uma melhor confirmação dos
resultados encontrados.
et
al.
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Fonte:Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 2006, Vol. VIII