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Design Instrucional e Análise do comportamento: uma breve introdução

David Melo da Luz

Você sabe o que é design instrucional? Já ouviu falar em engenharia pedagógica? Design instrucional, engenharia pedagógica ou projeto instrucional, historicamente são termos utilizados para referir-se a uma mesma prática. De forma geral, esta prática seria a de planejar e desenvolver programas de ensino, utilizando para isso instrumentos, métodos e técnicas fundamentados em alguma ciência pedagógica. A partir desta definição e a depender da perspectiva teórica a partir da qual direcionamos nosso olhar, o profissional responsável por este arranjo poderia ser o próprio professor.

 

Análise do comportamento e Design Instrucional: A importância de B.F Skinner

 

Ao inverter a lógica do pensamento predominante de sua época, atribuindo as consequências como fatores determinantes do comportamento, Skinner, dentre outras coisas, revolucionou o modo de se conceber os processos de ensino e de aprendizagem. Seus experimentos e descobertas acerca do comportamento operante produziram dados empíricos, replicáveis, e resultados efetivos o que despertou o interesse em diversos campos do conhecimento. Na prática, os estudos de Skinner influenciaram desde a metodologia de ensino utilizada em escolas do sistema americano de educação, até o treinamento de soldados do exército dos EUA durante a segunda guerra. Ainda que não existam dados concretos a respeito deste fato, é a este contexto quase atribui o surgimento do conceito de “design instrucional”. Um possível primeiro modelo do que se chamou de “desenho instrucional”, foi desenvolvido pelo exército americano, a partir das descobertas de B.F Skinner sobre comportamento operante. Este modelo teria sido aplicado ao desenvolvimento e treinamento de soldados para a segunda guerra.

 

Além da fundamental contribuição de Skinner e da análise do comportamento para o surgimento da ideia de design instrucional, pelo menos dois momentos históricos devem ser citados como marcantes no desenvolvimento do conceito. O primeiro deles é o que os autores da área chamam de “revolução cognitiva”. 

 

O período entre as décadas de 60-70-80, é apontado como um período onde ocorreu uma “revolução” no modo se conceber a aprendizagem, que teria implicado em uma “superação” do modelo “behaviorista” de design instrucional.Dada a extensão do tema, estou preparando um artigo para o comporte-se para tratar exclusivamente deste assunto e que será publicado em breve.

 

 

Um segundo momento marcante na história do design instrucional, ocorre no fim dos anos 90 com a popularização das tecnologias computacionais e o nascimento das práticas de ensino à  distância, onde o termo começa a aparecer na literatura referindo-se principalmente a profissionais desenvolvedores de E-learning e EAD. No Brasil o primeiro curso de formação em design instrucional, da Universidade Federal de Juiz de Fora, foi iniciado em 2005,oferecido como uma pós-graduação para profissionais de educação. O currículo do curso era direcionado para o planejamento, desenvolvimento, e avaliação do ensino à  distância. 

 

A regulamentação da profissão também é bastante recente. Apenas em Janeiro de 2009 (pouco mais de dois anos), o ministério do trabalho incluiu a profissão de design instrucional na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). A seguir algumas informações extraídas do próprio site do ministério:

 

 

2394 :: Programadores, avaliadores e orientadores de ensino

2394-35 - Designer educacional

Desenhista instrucional, Designer instrucional, Projetista instrucional

 

“Implementam, avaliam, coordenam e planejam o desenvolvimento de projetos pedagógicos/instrucionais nas modalidades de ensino presencial e/ou a distância, aplicando metodologias e técnicas para facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Atuam em cursos acadêmicos e/ou corporativos em todos os níveis de ensino para atender as necessidades dos alunos, acompanhando e avaliando os processos educacionais. Viabilizam o trabalho coletivo, criando e organizando mecanismos de participação em programas e projetos educacionais, facilitando o processo comunicativo entre a comunidade escolar e as associações a ela vinculadas.”

 

O conceito de design instrucional sofreu inúmeras variações e releituras. Hoje seu significado foi transformado, e na prática, quase sempre está relacionado à s tecnologias da informação. Assim, o design instrucional passa a ser o profissional responsável pelo desenvolvimento de programas dentro do contexto das novas tecnologias da informação, principalmente as relacionadas ao EAD (Ensino à  Distância) e ao

E-learning (Ensino mediado por computador). Este fato pode ser evidenciado tanto pela literatura da área que começa a desenvolver estudos específicos direcionados para a temática, quanto pela grade dos cursos de formação ou especialização que começam a surgir no país, quase todos dedicados a formação de professores qualificados para utilização destes novos recursos na educação. Ainda assim é importante destacar que não é a prática da utilização das tecnologias da informação e computação no ensino o que define a função do profissional de design instrucional, e sim o arranjar contingências sob as quais os alunos aprendem. 

 

 

Os estudos sobre a prática não são novos, mas a maioria deles se desenvolveu desligado da psicologia e da pedagogia. Por este motivo talvez, façam uma leitura mais aplicada (no sentindo prático) do que experimental dos processos de ensino.Hoje existem muitos modelos de design instrucional, sendo o mais comum e popular o modelo ADDIE (Análise, Desenho, Desenvolvimento, Implantação e Avaliação) proposto pela primeira vez em 1978 no livro: The Systematic Design ofInstruction, escrito por Walter Dick e Lou Carey.

 

 

Ao longo de muitos anos, analistas do comportamento tem se preocupado em desenvolver tecnologias eficazes de ensino. Os trabalhos teóricos de Skinner, Holland, Keller e tantos outros tem sustentado, até hoje, o desenvolvimento de intervenções de muitos programas de instrução (sejam eles computacionais ou não). Recentemente estas tecnologias tem avançado não só no sentido de utilidade na melhorias das práticas educacionais, mas também no sentido de cada vez mais se aprofundarem na discussão e explicação dos processos sob os quais os organismos aprendem (as pesquisas de Sidman sobre a equivalência de estímulos, e os recentes trabalhos de Hayes sobre responder relacional, são dois exemplos). Eu, pessoalmente, acredito que estes avanços (tanto nas pesquisas experimentais, como aplicadas), sustentam cada vez mais um modelo efetivo de instrução e ensino, que se utilizado na prática de se arranjar as condições sob as quais o aluno aprende, a qual aparentemente também é se chamada de “design instrucional” trará benefícios e avanços para a educação.

 

 

Bibliografia consultada:

Dick, Walter, Lou Carey, and James O. Carey (2005) [1978]. The Systematic Design of Instruction (6th ed.). Allyn& Bacon. pp. 1–12. ISBN 0205412742.

 

Ministério do trabalho site: http://www.mtecbo.gov.br/

  

Fonte:Comportese.com

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